segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Teste: Chevrolet Volt renova a energia da GM





A General Motors apostou na originalidade. E agora vai confirmar se colocou suas fichas no conceito certo. O Chevrolet Volt começou a chegar ao mercado americano em janeiro com o desafio de dar um novo rumo à lógica seguida até agora para a eletrificação de veículos. O Volt foi uma das últimas ousadias da GM antes da crise de 2008, que quase levou a gigante americana à derrocada. Por isso, ele passou a ser também o principal trunfo da montadora para se reerguer. E foi mostrado já praticamente pronto em todos os grandes salões de automóveis desde Paris em 2008. Agora, saneada, a montadora põe nas ruas as primeiras unidades do carro. 


O modelo é uma espécie de terceira geração de veículos criados para um futuro com o petróleo muito caro e escasso, depois do híbrido e do plug-in. O Volt seria a mistura desses dois modelos de mobilidade. É um veículo plug-in – que se recarrega por meio da rede elétrica – e com sistema de recuperação de energia durante as desacelerações e frenagens. Pode se manter sem consumir uma gota de combustível enquanto ficar limitado a trajetos médios, "entre tomadas" de 60 km. Mas se iguala a um híbrido no momento em que é necessário ir mais longe. Com o auxílio do motor a combustão, o Volt é capaz de rodar até 600 km sem reabastecimento. 



Para dar esse fôlego, entra em cena um motor a explosão – 1.4 16V com comando variável e injeção direta de 84 cv. Ele aciona um gerador de 55 kW que carrega a bateria de íon-lítio de 16 kWh com 288 elementos. Essa bateria, em forma de T, pesa 198 kg e fica instalada no assoalho do carro. Ela tem até um sistema de controle de temperatura, para esfriá-la ou aquecê-la – já que, em temperaturas muito baixas, baterias perdem a capacidade de fornecer energia. A do Volt alimenta um motor elétrico de 111 kW ou 151 cv de potência, com torque de 37,5 kgfm. E é esse motor que move o modelo. 



A sofisticação dos sistemas chegou a criar dúvidas sobre como classificar o Volt. Isso porque quando a bateria vai a zero, a energia gerada pelo motor a combustão alimenta de forma imediata, mas não direta, o motor elétrico de tração. Segundo a GM, isso não torna o Volt um híbrido plug-in porque só o motor elétrico tem acesso às rodas. Seja como for, o fato é que o sedã – compacto para os Estados Unidos e médio para o Brasil – é incrivelmente eficiente no que se propõe: ser um carro sem as limitações de autonomia, consumo ou de condução que afetam os modelos que buscam eficiência energética. Parece até um carro comum. 



O interior do modelo busca reforçar a ideia de um carro ortodoxo, embora moderno. O painel de instrumentos dá lugar a uma tela de cristal líquido, que informa sobre consumo, velocidade e condições da bateria e do motor a explosão. Outra tela, no console central, monitora rádio, GPS, ar-condicionado. Os comandos, do tipo touch, ficam em um painel de plástico brilhoso, que pode ser branco, cinza ou preto, dependendo da cor do veículo. O câmbio é CVT e tem uma alavanca bem minimalista. Também entre os bancos, com abas bem altas, um apoio de braços escamoteia um porta-objeto de boa capacidade. 



Mas a verdadeira alma do Volt é a bateria. Tanto que ela tem uma garantia especial, de 160 mil km ou oito anos – próxima à durabilidade estimada, de dez anos. O custo de reposição, estimado entre R$ 12 mil (US$ 7.500) e R$ 16,7 mil (US$ 10 mil), inviabiliza a extensão da vida útil de um carro que, zero-quilômetro, sai a R$ 68 mil (US$ 41 mil). A importância da bateria é tal que determinou até o estilo do carro. Como ela forma um túnel entre os bancos dianteiros e traseiros e se bifurca sob o assento traseiro, o Volt virou necessariamente um 2+2. Já que esta configuração era inescapável, a Chevrolet tratou de dar ao modelo um ar um pouco mais esportivo. A frente é bem agressiva, com spoilers que quase raspam o chão e faróis bem estreitos. A impressão é reforçada pela falsa grade dianteira na cor prata, dividida por uma barra horizontal na cor da carroceria. 



Essa frente, característica da marca Chevrolet, é a maior diferença entre o americano Volt e o alemão Opel Ampera, que será vendido na Europa. No perfil, uma pequena ilusão de ótica: a linha de cintura altíssima é disfarçada por um painel preto, com acabamento laqueado, que dá a impressão de que a área envidraçada é maior do que é e cria uma sensação de velocidade. A traseira tem linha retas, esculpidas – inclusive as lanternas –, com quinas vivas no para-choque. Tudo no novo carro da Chevrolet tenta transmitir a imagem de eficiência e modernidade. Valores que a General Motors espera consolidar na era Volt, que está começando. 



Primeiras impressões: silêncio enfático 



Uma das primeiras dificuldades que se enfrenta com o Volt é saber se o carro está ou não ligado. Não há ruídos ou vibrações, a não ser em situações de temperatura muito baixa. Nesse caso, o motor a gasolina é acionado até que a bateria atinja a temperatura ideal para fornecer energia. Em situações normais, a sensação é de se estar a bordo daqueles carrinhos de aeroporto ou de parque de diversões. Mas, fora isso, tudo no Volt foi projetado para soar o mais familiar possível para os egressos de modelos convencionais. E, depois de passado o estranhamento inicial, é o que acontece. 



De fato, poucos detalhes denunciam a condição de Erev do Volt – Extended Range Electric Vehicle, ou veículo elétrico de autonomia estendida, em inglês. O interior, desenhado para quatro pessoas, não o deixa muito distante de um cupê médio. O desenho da carroceria, baixa e de linhas marcantes, ajuda nessa impressão. O interior, com um console central avançado e cockpit simétrico, não é um exemplo de generosidade espacial, mas é muito bem acabado e usa materiais de primeira linha. 



O câmbio, apesar da insinuante alavanca curta, não faz muitos truques. A transmissão continuamente variável, CVT, dá pouca margem para interação. Tem as posições tradicionais e só. A forma de comunicação com o motor é mesmo o pedal do acelerador. E quando acontece, é um bocado eloquente. O Volt acelera forte. E pelo torque que tem, de 37,5 kgfm, faria ainda mais se os sistemas eletrônicos não interviessem para "civilizar" a relação. 



O trajeto de teste, nos arredores de Detroit, nos EUA, tinha trechos em estrada e outros em ruas de subúrbio. Isso permitiu avaliar o Volt em condições cotidianas. As duas de modo relativamente "calmo". As provocações vindas do visual esportivo e do baixíssimo centro de gravidade do modelo não encontraram terreno para uma resposta à altura. 



O silêncio absoluto imperou até que a bateria chegou ao fim da carga. Mas nem aí o Volt "vira abóbora". Nesse ponto, o rascante motor a explosão entrou em ação meio na surdina. A princípio, em giros baixos. Depois, quando abusado, falou um pouco mais alto. Em todas as circunstâncias, as respostas do Volt sempre foram imediatas e fortes. E qualquer pequena distração era suficiente para esquecer que o Volt não é um carro normal. 



Ponto a ponto 



Desempenho – O Volt é um carro ecologicamente correto. Mas nem por isso é comportado ou enfadonho. O motor elétrico, gerenciado por um câmbio CVT, tem potência equivalente à de um motor 2.0 com o dobro do torque: 151 cv, que atuam diretamente sobre as rodas dianteiras. O torque, de 37,5 kgfm – igual à de um 3.5 litros – é tão expressivo que as primeira reação do Volt, quando se pisa no acelerador de uma vez, é comprimir o corpo dos ocupantes contra o encosto. Mas logo os sistemas de controle entram em ação e acalmam os ânimos. O comportamento do Volt não permite diferenciá-lo de um veículo ortodoxo de boa potência, seja funcionando apenas com a carga da bateria, seja com o motor a combustão acionado. Os testes já realizados aferiram números de aceleração de zero a 100 km/h em torno de 9 segundos. O sedã médio – considerado compacto nos Estados Unidos – também se mostrou bem enérgico nas retomadas. A máxima, determinada pela engenharia da GM, é de 160 km/h. Nota 9. 



Estabilidade – O Volt não é tão comportado, mas o circuito escolhido pela GM era dos mais travados. Mesmo assim, na highway o carro pôde se mostrar bastante estável em retas, sem insinuação de flutuação. Nas curvas de baixa velocidade, típicas de ruas dos subúrbios de Detroit, ficou bastante neutro, mesmo quando forçado. O que já era esperado. Afinal, são 200 kg de bateria instalados bem no centro de um veículo de 1.715 kg no total. Além do centro de gravidade rebaixado, o próprio carro, baixo e largo, favorece o equilíbrio. Nota 8. 



Interatividade – A primeira orientação dos complexos sistemas do Volt foi ser "fool-proof" – à prova de bobagens. São duas telas de 7 polegadas que informam e alertam sobre tudo que acontece com o carro. Além disso, há três configurações diferentes na forma de conduzir: além dos autoexplicativos Normal Mode e Sports Mode, há o Hill Mode, em que o carro guarda energia antes de enfrentar uma subida de serra. A não ser pelo silêncio e pelo painel, que não deixa esquecer que o carro é movido por um motor elétrico, nada difere o Volt de um modelo normal de bom nível tecnológico. Nota 8. 



Consumo – Durante o teste, de cerca de 80 km, que consumiu toda a carga de bateria do modelo, o Volt teve um consumo médio de 17 km/l. Nota 9. 



Conforto – O espaço interno não é exatamente o forte do Volt. Seria como um médio normal, não fosse a enorme bateria que cria um túnel central maior até que o do velho Chevette. Sobram quatro lugares isolados pela enorme bateria. O espaço é medido e o teto é um tanto baixo – o que vai dificultar bastante o acesso ao habitáculo dos americanos mais balofos. Uma vez dentro, os bancos são confortáveis e o interior é bem atraente e silencioso. Não falta nenhum recurso de conforto importante. A suspensão é bem firme, em um estilo bastante europeu para um modelo americano. Nota 7. 



Tecnologia – O Volt nasceu para tentar responder como será o carro do futuro. Ele mistura os conceitos de veículos elétricos, que respondem às necessidades da vida urbana, com os de híbridos, que são econômicos e têm grande autonomia. Além disso, traz recursos de segurança na construção – com diferenciação estrutural com aços nobres – e também nos equipamentos, como controle de tração, ABS e airbags. Há ainda o sistema OnStar, que conecta o Volt à Internet 3G – incluído no preço do carro por cinco anos. Nota 10. 



Interior – Como é um carro de pequena altura e com bancos baixos, entrar e sair do Volt exige um certo alongamento. Cada um dos quatro ocupantes fica "confinado" a um cockpit individual. Por ser um projeto americano, há porta-objetos e porta-copos suficientes. A capacidade do porta-malas, de 300 litros, é ligeiramente prejudicada pelo espaço que a bateria ocupa. Consegue ser menor que o porta-malas do Civic brasileiro. Nota 6. 



Acabamento – Os materiais utilizados no Volt transmitem requinte e modernidade que quase justificam o salgado preço em torno de R$ 68 mil (US$ 41 mil). Acabamento em couro, painéis em tecido, laqueados e em plástico espumado são agradáveis de conviver. Nota 8. 



Design – O Volt que chega agora ao mercado americano é muito próximo ao que vem sendo apresentado desde Paris 2008. E nem mesmo naquela época as linhas eram revolucionárias. O que era então levemente ousado passou a ser, nesse intervalo, quase comum. Mas as linhas esculpidas são harmoniosas e atraentes. A grade horizontal, típica da Chevrolet, ganha um ar mais arrojado com os painéis em prata. Nota 8.





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